Chaves saturado x Chespirito capitalista
Nos últimos dias, surgiram dois temas muito polêmicos, sobre os quais eu gostaria de me manifestar. O primeiro deles: Chaves está ou não saturado? Deve sair do ar ou não? O segundo tema, igualmente polêmico: Roberto Gómez Bolaños era um capitalista inescrupuloso, que só pensava em si e não se importava com ninguém?
Sobre o primeiro tema: CHAVES ESTÁ ENJOANDO? Algumas pessoas dizem que sim. O seriado, que está na nossa televisão desde 1984, é exibido desde o começo do ano passado às 18 horas e 30 minutos. Invariavelmente são transmitidos 3 episódios, espremidos em 1 hora e 15 minutos de duração: o primeiro é completo, o segundo com poucos cortes e o terceiro quando é preciso é totalmente mutilado. Sem contar os intervalos comerciais, cada um com cinco minutos.
Apesar do programa estar tendo um bom retorno em termos de audiência, com alguns anunciantes e presente no melhor horário possível, existem muitas reclamações. A pior delas diz respeito aos terríveis cortes, que acabam afetando o andamento da história dos episódios e irritando os chavesmaníacos, que querem ver seu programa predileto na íntegra, acompanhando todos os detalhes, seja por questões estéticas, ou para poder gravar.
A segunda reclamação é um pouco mais difícil de entender. Muitos estão se queixando das reprises excessivas do programa, fazendo com que um mesmo episódio seja exibido mais de uma vez por mês. Não me entra na cabeça que alguém que se diga fã do seriado possa estar se queixando disso. Afinal de contas, Chaves é reprisado desde 1984 e, muitas vezes, houve mais de uma exibição diária.
O fã pra valer é capaz de assistir duas vezes o mesmo episódio em um só dia, sem reclamar. Quanto aos cortes, até dou um pouco de razão. Como fã, não gosto de ver os episódios tesourados, e acredito que ninguém goste. Mas, temos que admitir, é melhor do que nada. Seria muito pior se o programa estivesse fora do ar.
Li coisas que me deixaram pasmo: muitos preferem que o programa saia do ar do que continue desse jeito. Ora, faça-me o favor. Como um fã das séries pode defender essa idéia? O importante é que Chaves seja transmitido, da maneira que for. Estando o programa no ar, fica muito mais fácil brigar por melhorias, como fim dos cortes e volta dos episódios. Não entendo muito bem essa matemática: o programa deve sair do ar para ser melhor tratado. Vai entender...
O segundo tema em discussão é o CARÁTER DE CHESPIRITO. Alguns dão o criador das séries CH como um grande capitalista, um homem que só pensava em dinheiro e que não estava nem aí para as pessoas. Segundo os críticos, Roberto Bolaños só se preocupava em lucrar, passando por cima de todos e não se importando com sentimentos como amizade, companheirismo e gratidão.
Em primeiro lugar: QUEM SÃO ESSAS PESSOAS PARA DAR OPINIÃO SOBRE O CARÁTER DE ALGUÉM QUE NEM CONHECEM? Pelo jeito que falam, parece que conheciam Chespirito intimamente. Não se pode fazer julgamentos sobre ninguém. Ou será que eles têm algum poder especial para entrar na mente das pessoas e julgar as suas ações?
As análises são feitas pelo que acontece na mídia. Os pontos-chave dos críticos: a saída de Carlos Villagrán, em 1978, e a continuidade do programa por 25 anos, recheado de remakes e saída de atores.
Sobre o primeiro aspecto: o ponto de vista de Villagrán é plenamente aceito: saiu porque Chespirito queria diminuir o seu papel. E quem disse que as coisas realmente aconteceram assim? Segundo todos os demais atores, Carlos saiu porque queria ganhar dinheiro sozinho. Acreditar em quem? Alguém estava lá para saber o que realmente aconteceu? É mais fácil acreditar em um só ou em todo um grupo que diz o contrário (Chespirito, Florinda, Edgar, Ruben, Maria Antonieta, etc)?
Quanto a continuação do programa: será que só porque Carlos e Ramón Valdez deixaram as séries, Chespirito era obrigado a encerrar tudo? Claro que não. O elenco era numeroso, e conseguiu dar muito bem conta do recado nos anos seguintes. Bolaños encontrou soluções geniais para suprir as ausências: criou novos cenários, incrementou personagens, criou situações novas e, por fim, voltou com o Programa Chespirito, com novos personagens, histórias mais curtas e ágeis.
Sobre os remakes, deve-se levar em conta que não havia reprise das séries. Os programas iam ao ar semanalmente, e possivelmente não seriam mais exibidos. Portanto, perfeitamente natural que uma história fosse gravada de 3 em 3 anos, sempre com variações de personagens e uma ou outra mudança. O próprio SBT encontrou uma boa solução para esse problema: cancelou as versões mais antigas, deixando apenas as mais recentes[pelo menos até a volta deles em 2012 era assim que funcionava].
Finalizando esse assunto: Florinda Meza, Edgar Vivar e Ruben Aguirre ficaram com Chespirito até o final da vida dele, sem reclamar nunca. Será que eles são capitalistas também? Sinceramente não pareceu, Edgar foi de uma simpatia contagiante quando veio ao Brasil uma caralhada de vezes, em 2003. Quanto à briga com Maria Antonieta: quem está certo? O criador da personagem, ou a intérprete? Outro caso de interpretação.
Por último, quero dizer que não tenho nada contra ninguém. Só não consigo entender certas coisas, o que deixei bem claro. Todos têm direito a ter uma opinião sobre determinado assunto. Mas não existe unanimidade em lugar nenhum do mundo.
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