sábado, 31 de outubro de 2015

Dona Florinda: de coadjuvante a protagonista

 Em meio aos terríveis boatos de que ficaremos sem Chaves e sua turma na televisão brasileira em 2016, resolvi começar falando sobre um assunto mais ameno. Vou discutir a respeito das séries em si, seus personagens e sua história. Para a chama CH permanecer acesa na mente dos brasileiros, nós fãs devemos o máximo possível simplesmente falar sobre elas: destacar seus pontos positivos, curiosidades, etc.

Bem, dessa vez quero falar sobre a personagem Dona Florinda. Isso mesmo, a conhecida “velha carcomida, enjoada, pestilenta, coroca”, entre outros apelidos. Apesar de não ser considerada como protagonista da série Chaves, a personagem interpretada brilhantemente pela belíssima atriz Florinda Meza marca ponto em praticamente todos os episódios do programa. Mesmo aparecendo ocasionalmente, apenas para defender o filho Quico e para bater no Seu Madruga, ela aparecia em todos os episódios.

 Dona Florinda ao lado do Professor Girafales, personagem com o qual mais contracenou.

Ao contrário dos personagens Quico, Chiquinha e Seu Madruga (sem falar,no Chaves), Florinda aparece pouco no enrendo de alguns dos episódios. Na verdade, além das relações descritas acima com Quico e Seu Madruga, a personagem só é mais requisitada quando chega o Professor Girafales, o seu “pretendente”. Apenas nessas situações, os holofotes estão em cima da personagem.

Exemplos dessa situação estão em “O dinheiro perdido” e “A galinha da vizinha é mais gorda do que a minha”.  Nesses dois episódios, velhos conhecidos dos chmaníacos, Dona Florinda aparece apenas duas vezes em cada um. Em todas elas, para bater no Seu Madruga, após chamada pelo Quico.

 Durante os anos 70, Dona Florinda pouco contracenou com  Chaves

Durante a década de 70, a relação de Dona Florinda com outros personagens é bastante superficial. Às vezes acontecia uma ou outra discussão com a Chiquinha, mas a mamãe do Quico praticamente não dava bola para a filha do Seu Madruga. Deixava a baixinha xingar ela e dava as costas, com desprezo. Com Chaves, Sr. Barriga e Dona Clotilde, por exemplo, Dona Florinda falava muito pouco. Apenas conversas rápidas, sem aprofundamento.

 Seu Madruga (o saco de pancadas) e Quico (o filho querido), os dois personagens com quem Florinda mais conviveu na década de 70

Como as esporádicas aparições de Dona Florinda estavam praticamente todas ligadas aos personagens Quico e Seu Madruga, era de se esperar que, com a saída deles da série, ela ficasse praticamente sem função nos episódios. Afinal de contas, para que serviria a Dona Florinda se não tivesse mais filho nem ninguém para bater? Será que a relação dela com o Professor Girafales serviria para sustentar a personagem?

No entanto, os prognósticos pessimistas a respeito do futuro de Dona Florinda estavam totalmente equivocados. Sem Quico e Seu Madruga,  A PERSONAGEM TEVE UM CRESCIMENTO EM TODOS OS SENTIDOS. Mas isso se explica basicamente pelo fato de que, sem dois de seus protagonistas, a série precisaria incrementar alguns personagens. Isso aconteceu com a Chiquinha, com o Nhonho, com a Pópis, com o Professor Girafales e com a Dona Clotilde (com o Sr. Barriga não, já que seu personagem ficou meio sem importância com a saída do Seu Madruga).

 Em 1979, a personagem teve um crescimento, e passou a contracenar mais com outros personagens, como o Sr. Barriga

A partir de 1979, a relação de Dona Florinda com os demais personagens passou a ser mais aprofundada. As rixas e discussões dela com a Chiquinha foram mais valorizadas nos episódios, ganhando ares de grande rivalidade e com a Dona Clotilde aconteceu algo parecido: as duas passaram a conversar mais, quase sempre com uma esnobando a outra. Com o Sr. Barriga também, Dona Florinda passou a ter certas dificuldades financeiras e o dono da vila passou a conviver mais com ela. E também com o próprio Chaves, com quem passou a conversar mais (e a implicar também).

No entanto, a grande reviravolta da personagem aconteceu após a chegada do “Restaurante de Dona Florinda”. Nesse local, passaram a ser vivenciados muitos episódios a partir do segundo semestre de 1979. E, como dona do local, parece óbvio que Dona Florinda fosse, ao lado do Chaves, a personagem mais importante nesse contexto. Situação muito parecida com a do “namorado”, o Professor Girafales. Nos episódios da vila, tinha aparições esporádicas. No seu “ambiente” (no caso, a escola), virava protagonista.

Personalidade – Após a exposição detalhada a respeito da importância da personagem ao longo dos episódios, torna-se necessário também falar sobre a personalidade de Dona Florinda.  Florinda Meza interpreta sua personagem em Chaves com maestria. É capaz de transformar sua fisionomia em poucos segundos, passando de uma mãe furiosa para uma mulher apaixonada.

A qualidade da atriz Florinda Meza pode ser percebida ao compararmos Dona Florinda com a maioria das personagens interpretadas por ela na série Chapolin. Quem poderia imaginar que aquelas mocinhas ingênuas e assustadas poderiam virar uma mulher tão ranzinza?

Finalizando, quero defender Dona Florinda daqueles que acham que ela é a “vilã” do seriado. Como eu já escrevi em uma coluna anterior, na série Chaves não existe o maniqueísmo, ou seja, o bem e o mal, os mocinhos e os vilões. Tratam-se de seres humanos como nós, com virtudes e defeitos, boas ações e canalhices que, é bom que se diga, todos nós cometemos de vez em quando.

Dona Florinda é ranzinza, esnobe e sempre espanca o Seu Madruga. Quico é mimado, egoísta e incapaz de abrir a boca para defender o pai da Chiquinha. Seu Madruga é preguiçoso, caloteiro e intolerante com as crianças. Chiquinha é mentirosa e travessa. Chaves é vingativo e capaz de tudo por um prato de comida. Professor Girafales é extremamente egocêntrico. Por aí, pode se ver que todos têm defeitos, então todos são “vilões”.  Se tivesse que apontar um, seria o Quico, não pelos defeitos, mas mais por ser o principal “antagonista” do mocinho Chaves (que de mocinho não tem nada).

O FIM DE CHAVES NO BRASIL?

Agora, vamos para a parte mais triste. Foi noticiado há alguns dias que a série Chaves (quando falo Chaves, cito junto todas as séries de Chespirito, principalmente Chapolin) daria espaço pra mais um horário de novelas da tarde. 

Justo agora, que parecia que Chaves estava fixo na televisão, em um horário decente, com ótimos índices de audiência. Claro, Chapolin e Clube do Chaves estão fora do ar, alguns episódios (a maioria) estão sendo cortados, nada de episódios inéditos ou perdidos, etc.  Mas nada é perfeito, o importante era ter Chaves na TV.

Nenhuma notícia poderia ser pior para os chmaníacos. Foi como uma bomba (se bem que deveríamos esperar de tudo do emissoreco). 

 É bom rezar muito, Seu Madruga, para que a chama CH não se apague na TV brasileira

Pessoalmente, ainda tenho esperanças desse quadro ser revertido. Várias situações podem acontecer: o SBT pode reconsiderar esquecer do tal horário das novelas.

Ainda não devemos perder a esperança. Mesmo que Chaves saia do ar por algum tempo, é muito provável que haja alguma solução para a volta das séries. Quem sabe a Gazeta não compra de volta pelo menos os direitos do Programa Chespirito/Clube do Chaves? Sei que muita gente não gosta, mas é melhor do que nada. Precisamos manter a chama CH viva na TV brasileira, nem que seja apenas com Chompiras, Chaparrón, Chaves e Chapolin mais velhos.

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