segunda-feira, 2 de novembro de 2015

UMA CENA QUE SIMBOLIZA A REALIDADE

Chaves: uma vítima da sociedade
 em época de eleições.  inúmeros sujeitos invadem todas as emissoras abertas de TV e as estações de rádio com o intuito de pedir, de maneira desesperada, o seu voto. Apelam para a velha tática clichê de enfileirar uma proposta atrás da outra, e isso sem contar os corriqueiros chavões como "pela ética e pela cidadania", "vamos acabar com a corrupção", "menos impostos, mais empregos", entre outras papagaiadas. Essas promessas todos nós sabemos que não passam de pura garganta, que tudo será esquecido logo após o período eleitoral. E o eleitor-telespectador assiste, naturalmente, ao horário político ouvindo tudo por um lado e saindo pelo outro. Os problemas sofridos pela nação são especificados e detalhados, e o receptor fica ciente da gravidade da situação, mas passivo quanto a esses acontecimentos. Um outro exemplo: quem acompanha na TV, seja por noticiário ou documentário, a miséria de um casal com uma grande quantidade de filhos espalhados pelo barraco onde moram, lamenta profundamente a precariedade da vida de tal família e começa a refletir, a estabelecer debates sobre como melhorar as condições daquela gente. Porém, tudo da boca pra fora! Tal debate, na mais triste realidade, não passa de um inexpressivo mar de lamentações, com todos os infortúnios especificados e lamentados. Mas encontrar soluções adequadas que é bom... nada, né? Pura demagogia!

O "café da manhã de todas as manhãs" de Chaves deixa o professor sem palavras
           Um exemplo marcante encontramos no episódio "Isto Merece um Prêmio". A cena escrita por Roberto Gómez Bolaños é a autêntica síntese da subjetividade de tais debates: muito falatório e pouca (ou melhor, nenhuma) ação. Um verdadeiro retrato da realidade, explorada pelos políticos a fim de conseguir votos para desfrutar de quatro anos da mais pura mamata. Eis o resumo completo da cena.            Na sala da casa de Dona Florinda, Chaves e Quico mostram seus desenhos ao Professor Girafales. Logo após o desfile de bizarrices protagonizado pelo "tabuleiro de xadrez para principiantes", "máquina de escrever com uma tecla só" e "sanduíche de ovo", Chaves mostra um cartaz sem nada desenhado e o órfão diz que fez o "desenho" sozinho, sozinho. Girafales, indignado, pergunta o que significa aquilo. Chaves responde: "É o meu café da manhã de todas as manhãs". A resposta é complementada por um conformado "que que eu vou fazer?".

O café e as bolachas estão servidos, enquanto Girafales mantém-se pensativo
            Então, por um minuto ininterrupto, o Professor mantém-se quieto, atônito e pensativo. Enquanto isso, Dona Florinda traz café e biscoitos para servir aos três que se encontram na sala. Quico, que a havia decepcionado anteriormente com a história da "estrelinha de bom menino", implora pra sua mãe que o deixe comer um biscoitinho. A diferença social de Quico para Chaves fica evidente pelo tratamento dado por Dona Florinda ao filho único, bastante mimado pela mãe nessa ocasião (e em todas) com a fala abaixo:            - Olha, tesouro, eu poderia permitir que você comesse até 20 biscoitos. Mas por ter me enganado com a história da estrela, não vai comer mais que 18! Nenhum a mais!

Dois biscoitinhos a menos deixam o dono da "estrelinha de bom menino" chateado
            Quico, ainda assim, acaba ficando triste com "o castigo" absurdo imposto pela "valentona do 14", que especifica que de vez em quando tem que ser enérgica com os filhos. Ela então percebe que Professor Girafales permanece calado e sem reação. Dona Florinda o cutuca e aí o Mestre Lingüiça dá início ao debate.            - Desculpe, Dona Florinda! Mas é que fiquei pensando como é possível que hajam meninos como o Chaves e muitos outros que não têm absolutamente nada para comer.            - Bem, é verdade! Esse é um grande problema! As pessoas deveriam pensar nisso! - diz Florinda, enquanto os três começam a se servir dos biscoitos. Chaves, atrás do sofá, se empolga com o lanche servido, mas percebe que ninguém lhe oferece. Dona Florinda e Professor Girafales vão comendo e conversando.            - É incrível que não haja qualquer sensibilidade.             - Mas o que é que o senhor queria, professor? Ninguém se importa com os problemas dos outros!            - Mas é preciso perceber que...            - Claro, professor, por isso há tanta fome no mundo!            - É uma lástima!

O trio se farta de bolachas. Pro Chaves, necas!
            - É preciso amor!            - De compaixão!            - Sim!            - Pra ajudar...            - Pois é, nem fale...            - A fome é uma coisa muito séria! - o diálogo segue, com Girafales, Florinda e Quico discutindo, enquanto cada um pega um punhado e se empanturram de bolachas. Chaves, sem reação, assiste à conversa e se dá conta de que os três não lhe oferecerão nada. O trio não consegue mais falar por já terem enchido suas respectivas bocas de bolacha.

O debate é sobre a fome, enquanto um menino faminto é ignorado
            - E se ninguém ajudar... - diz Dona Florinda, após cinco segundos, com a boca cheia.            Neste instante, Chaves, sem ser notado pelos três, deixa a casa de Dona Florinda. Sem esboçar reação, o órfão, com o semblante sério e mostrando conformidade com a situação, se refugia em seu barril quieto, sem balbuciar nenhuma palavra.            A cena é simplesmente perfeita para descrever a indiferença dos endinheirados para com a os mais necessitados. Os debates sobre a pobreza sempre ocorrem. Mas, como ficou provado na emblemática cena acima, é muito blá-blá-blá e pouca atitude. A genialidade de Chespirito reproduziu de maneira singular como é discutida a desigualdade social e a admissão da passividade por parte de quem tem menos recursos, sabendo que o capitalismo, que prolifera em nosso mundo, torna a situação bastante irreversível. São milhões de miseráveis espalhados mundo afora. Por isso, o pensamento definitivo é que, se nós tivermos o que comer diariamente, já está bom demais. Dona Florinda e Professor Girafales, com a mesa farta de cafezinho e bolachas, apresentavam uma artificial diplomacia com aquela discussão vaga. Isso sem contar o desprezo sofrido pelos mais necessitados. Exemplos são encontrados no proprio seriado, através do tratamento dado por Professor Girafales ao Chaves em duas ocasiões. No episódio "Seu Madruga Professor", o órfão é o último a chegar na classe e o Mestre deixa claro que nem tinha dado por sua falta. E no julgamento realizado no mesmo cenário da cena descrita mais acima, Girafales recomenda a Quico que não utilize xingamentos para se referir a um ser "entojado" como Chaves.

A sina de um representante da classe baixa, vencido por uma falsa diplomacia e sobretudo pela indiferença
            E há quem acredite em chavões (nada a ver com o nosso querido personagem) e em um turbilhão de promessas que jamais serão cumpridas por parte dos milhares de postulantes a cargos públicos espalhados por todo o Brasil. Não estou querendo desestimular o leitor a exercer o seu direito de cidadão ao dar o seu voto. Muito pelo contrário! Quero que você, querido chmaníaco, tenha orgulho em definir os próximos mandantes de nosso país e de seu Estado. Afinal, pra que a nossa incansável luta em 1984 pela volta das eleições diretas para presidente? Mas só pra deixar claro que o patamar social nos próximos quatro anos deverá ser o mesmo. Pouca coisa, senão nada, mudará! Não é um político qualquer chegar, trocar beijos, abraços e apertos de mão, e dizer "temos que fazer isso", que a coisa acaba em final feliz. Infelizmente, às vezes, querer não é poder. Não é por Professor Girafales e Dona Florinda lastimarem que tantas crianças passem fome no mundo que, no fim das contas, meninos como Chaves terão todo dia um prato de comida na mesa. Eles continuarão saindo de cabeça baixa, conformados e passivos com a miséria com a qual são obrigados a conviver.

A propósito de submarinos atômicos, não repararam que 2006 foi o ano da Corneta Paralisadora? Três aventuras novas protagonizadas pela cômica arma conhecemos: a segunda versão da volta da corneta (presente no DVD nº 2 do Chapolin), uma aventura mais antiga e inédita (no DVD nº 3) e  o entremés exibido  dia 16 de setembro pelo SBT (resumido mais abaixo), onde a arma é  chamada de "pistola". 

Em 2006,, Chespirito  levou um tombo e teve de ser levado às pressas para o hospital,onde, depois de vários exames - incluindo uma radiografia -, os médicos detectaram a ruptura de uma costela.  Roberto Gómez Bolaños que tinha perdido  a audição do ouvido esquerdo e Florinda Meza, sua esposa, estava atuando como sua intérprete. Chespirito também pode perder a voz em função de um enfisema pulmonar, resultado de 40 anos em que foi fumante. Por isso Chespirito afirmava que sua maior vitória na vida foi ter parado de fumar. 
Fora os problemas de saúde, Chespirito continuava colhendo os louros de suas obras-primas.  os personagens Chaves e Chapolin viraram selos postais no México. Dê uma conferida neles abaixo (eles insistem em utilizar fotos em que Bolaños já está um pouco mais gordo, preterindo imagens da fase clássica)! Homenagem mais do que justa!
Qual o motivo pela minha dedicação afinco, por eu ter tanta disposição ao mostrar as últimas do meio CH e bater esse papo tão crítico e sincero com o chmaníaco, procurando colocar em debate exatamente o que ele pensa? Confiram a mensagem do internauta Lucas Correia Ribeiro: "Estou passando apenas para reafirmar que sou seu fã, e dizer que continuo admirando suas colunas. Sério mesmo, percebe-se claramente em seus textos, não apenas o seu profundo conhecimento sobre as séries CH, mas também um enorme carisma que, aliado à sua incrível capacidade de escrever de forma acessível, e ao mesmo tempo rica, prendem o leitor de tal maneira que, não importa o quanto você escreva, sempre o deixará com vontade de ler mais. Este tipo de conciliação é, infelizmente, muito difícil de se encontrar , o que me leva a ter certeza de que seu trabalho será conhecido e admirado por todos futuramente, desde que você continue assim". Tamanha injeção de ânimo serve para eu me dedicaraos chmaníacos! Um abraço do fundo do meu coração, Lucas!


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