histórias com desfechos, digamos, decepcionantes. Chapolin é uma série incrível, talvez até mais que Chaves, com um universo rico que, mesmo assim, não foi bem explorado, prova disso é o seu encerramento “precoce” em 1979. Então seria mesmo um descaso de Chespirito? Parcialmente, sim, pois algumas histórias dá para questionar o verdadeiro motivo desses finais decepcionantes.
Para começar, temos as histórias com atores caracterizados de figuras folclóricas. Pronto, aí está o motivo de desfechos tão fracos. Lobisomem, Abominável Homem das Neves e até mesmo índios de tribos antigas pipocam no imaginário popular, com relatos de aparições de diversas pessoas. Talvez para a aproximar a série de algo mais próximo da realidade, Chespirito descartou qualquer chance dessas lendas serem realidade em seus roteiros. Mas o Conde Sanguessuga e a Bruxa Baratuxa, por exemplo, não se enquadram nessa explicação, uai! É, realmente essa hipótese é uma tremenda furada, aliás, no momento em que o Polegar toma as suas Pastilhas Encolhedoras, a série já deixa de ter um toque realista.
Talvez não tenha como fugir. A parte do descaso de Chespirito aplica-se exatamente nessas histórias. Sabemos que esses roteiros não criam nenhuma condição de que todo enredo se passa em set de filmagem, não falando literalmente. Ou seja, Chespirito tinha a oportunidade de criar verdadeiros monstros, como foi com o Panchostein. Infelizmente ele tomou outra decisão, o que acarretou em finais insossos.
E a outra categoria, a de imaginações de diversos personagens? Ah, sim, essa talvez seja a parte que tenha algum sentido, começando com a história do episódio “A cidade perdida” (1976). Todo enredo é concentrado na antiga cidade Discoteca, com traços semelhantes a de antigas civilizações, como os Maias. Os mocinhos do episódio são dois exploradores, totalmente ligados a História Pré-Colombiana. Logo no começo, já podemos perceber o quanto a mocinha está apreensiva, com claros sinais de desconfiança de que a antiga cidade ainda é habitada. No momento em que se desliga da expedição, ela, com totais conhecimentos dos antigos povos da América e com o peso de sua desconfiança, passa a imaginar toda uma história naquela local.
Isso é bem possível de acontecer, não? Até seria estranho que uma antiga civilização ainda tivesse descendentes, sim, mais estranho que uma verdadeira bruxa, por exemplo. E ainda há um detalhe não menos importante: a Marreta Biônica do Chapolin encontrada na cidade perdida. Talvez ninguém tenha comentado isso, mas parece que Chespirito deixou claro que aqueles exploradores estão em uma época posterior a da existência do Polegar. Sim, isso mesmo! Podemos notar pela explicação do perito Chihuahense, em que ele descreve precisamente o nosso amado herói, deixando claro que ele não existe mais.
Outro que não podemos deixar de comentar é o episódio “O gigante” (1977). Devido a uma parte assustadora do roteiro, em que o Vermelhinho é esmagado pelo monstro, deixar aquilo rolar como algo verdadeiro seria terrível para a série. Nem mesmo a creeppypasta “A morte do Seu Madruga” seria tão desagradável quanto a isso. Ou seja, o final desse episódio não poderia ser outro senão um horrível pesadelo do Polegar.
E finalmente chegamos ao episódio “O tesouro do pirata fantasma” (1975). Este merece atenção porque talvez seja um dos poucos episódios do Vermelhinho em que apresenta ligação com um outro episódio, na verdade, com a conhecida saga “Os piratas“, do mesmo ano, tanto é que não foi regravado na Era Clássica (deixemos de lado a semelhança com o episódio “O cofre do pirata”, de 1976). Alguns especulam que o malvado Alma Negra morre na última parte dessa saga, tendo como indício os créditos exibidos na segunda parte da atual exibição da Televisa: uma possível caveira do pirata perto a um baú de tesouro.
Logo é exibido um episódio em que o tatatatatatatata… Ah, vocês já sabem que maluco é esse, né? Pois bem, ele diz a mocinha da história que no local onde eles estão há o tesouro do falecido Alma Negra, seu tatatata, enfim… Durante o episódio, surge o fantasma do malvado pirata aterrorizando a todos, até que é revelado que tudo é imaginação da mocinha da história.
Caso o episódio realmente tenha ligação com a saga “Os piratas”, fica bem mais coerente que o desfecho seja a imaginação de uma pessoa, isso se o Alma Negra morre mesmo antes desse episódio. Talvez seja um dos maiores mistérios do Chapolin, e caso a Televisa não libere algum dia a conclusão da saga “Os piratas”, continuará sendo um mistério para os CHmaníacos.
E novamente vocês, leitores, se depararam com mais uma crítica à série Chapolin, e mais uma vez acabou envolvendo os roteiros de Chespirito. Podemos ver que alguns episódios tinham condições de ter um final mais apropriado. Não que isso torne as histórias péssimas, mas isso nos passa uma sensação de um trabalho feito pela metade. Na minha opinião, um dos maiores erros cometidos pelo mestre, embora não consiga tirar o brilho da série. Eu poderia citar outras histórias, como “A festa à fantasia” (1979) e “Nós e os fantasmas” (1978), que apresentam desfechos semelhantes aos episódios com atores caracterizados. O diferencial é que os seus respectivos roteiros criam condições para que aquele seja o final certo, já que estamos falando justamente de histórias com pessoas caracterizadas. Mas nem tudo é um mar de rosas. O episódio “Não se enrugue, couro velho, que te quero para tambor” (1974) é um outro exemplo de uma história sem um final adequado, infelizmente.
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