Vilões mal aproveitados
Tripa Seca, Quase Nada, Racha Cuca, Celina (Garota), Pirata Alma Negra, enfim… Quando o assunto são vilões do Chapolin, esses personagens são os mais lembrados pelos CHmaníacos. Uns espalham o mal com mais comparsas, um outro com ente próximo, e até aquele que é líder de um bando todo. Grande parte dos episódios que contam com esses inimigos têm histórias bem elaboradas, onde nosso herói encontra um desafio a sua altura, quero dizer, digo… bem, bem, o fato é que eles conseguem colocar o Polegar em momentos delicados, exigindo muito de sua astúcia.
Mas não podemos esquecer que o Vermelhinho possui uma vasta gama de vilões. Está certo que não chega a se comparar com os do Batman, por exemplo, mas cada um possui características próprias, distinguindo-se uns dos outros. Você irá conferir uma lista que seleciona alguns vilões mal aproveitados na série.
Conde Sanguessuga: Para alguns, é um rosto desconhecido (deixemos de lado a aparência de Carlos). Mas essa parcela de pessoas já devem ter visto o esquete “O vampiro” (1972). Pois bem, a imagem acima trata-se da quarta versão desse episódio, “Los hombres vampiro no saben hacer otra cosa más que andar chupando sangre” (1978), episódio inédito no Brasil. Como essa edição é uma crítica à série Chapolin, esse acaba sendo o vampiro escolhido, deixando de lado os de 1970 e 1972. Para os leigos, há ainda uma versão mundialmente perdida de 1974, que, pelas fotos disponíveis, Carlos Villagrán aparentemente interpreta o vilão. Sabendo que Chespirito adorava reciclar até mesmo pequenos detalhes, provavelmente o vampiro dessa versão também possui o mesmo nome do de 1978. Digamos que é um “Drácula” mais “formado” que os demais.
E eu nem preciso dizer o porquê que esse vilão não foi bem aproveitado. Na série, ele apareceu duas vezes em histórias idênticas. Não foi o mesmo com o Pirata Alma Negra, por exemplo, que está presente em duas distintas sagas de piratas, além de já ter sido um fantasma. Chespirito, que sempre escreveu histórias com temáticas assustadoras, poderia muito bem criar um roteiro novo com esse vilão, mesmo ele morrendo no final do episódio. Focasse mais nas características de um autêntico vampiro e deixasse um pouco de lado que ele é um louco que acredita ser a reencarnação do Conde Drácula, apesar dessa boa junção entre loucura e vampirismo.
Bruxa Baratuxa: Essa é bastante conhecida pelos fãs, e não são poucos os motivos: pela Bruxa Baratuxa ser uma das poucas vilãs de Maria Antonieta de las Nieves, pelas frases contidas no episódio, pela magia imposta no Chapolin, o que faz com que o seu corpo divida-se ao meio, enfim… Essa poderosa vilã também só foi jogada em histórias idênticas, nenhuma outra diferente. Um total desperdício, já que é uma inimiga que usa magia para seus maléficos planos, um desafio e tanto para o Polegar. E é exatamente isso que surpreende por não ter sido aproveitada. Chespirito sempre abusou do efeito Chroma Key, e, mesmo sendo uma técnica complicada para época, garante facilidade para escrever boas histórias. Não que o mestre deveria criar uma enxurrada de episódios com efeitos especiais, mas que explorasse mais dessa personagem, moderando sempre nessa técnica usada até os dias de hoje.
Ter a Bruxa Baratuxa em histórias diferentes seria muito bem-vindo, pois as vilãs teriam um destaque maior em meio a tantos “homens maus”. Aliás, seria favorável, também, para a atriz que a interpreta. Já que Chespirito reduziu drasticamente a participação de Maria na série, entregando quase que por completo o papel de mocinha à Florinda Meza, ao menos como Bruxa Baratuxa ela teria uma participação um pouco maior, aparecendo como vilã em mais de um episódio. Mas não foi o que aconteceu, infelizmente…
Dimitri Panzov: Esse é o irmão do Prof. Popov, digo… Para o azar de nós, brasileiros, o episódio “…Y líbranos también de los distraídos / De los metiches líbranos, Señor” (1973) também não foi dublado pelo SBT, porém nada impede de vê-lo em espanhol. O episódio é excelente, apesar da história clichê, e o bom é que o Chespirito fez o favor de não regravá-lo, pelo menos é o que sabemos atualmente. Mas o que torna o episódio tão bom? Simples, meu caro leitor. Nele há uma junção de personagens com nacionalidades diferentes. Temos o herói mexicano, o “anti-herói” americano (eu prefiro estadunidense, mas aí vão dizer que estou criando moda…) e o vilão russo. Os atores dão o tom certo nos sotaques de seus personagens, Ramón para o Super Sam, temos também o Carlos para o seu personagem, um autêntico “chapeleiro mexicano”, e o Edgar para o Dimitri Panzov. Mas é esse último que, ao meu ver, é o destaque do episódio, pois, além de ser um vilão do Chapolin, é também o principal vilão do Super Sam.
De um lado um vilão russo robusto, representando a União Soviética, do outro um super-herói americano flácido, representado os Estados Unidos. Então, querem uma rivalidade mais perfeita do que essa? Na época em que foi escrito, o mundo presenciava o embate de ideologias defendidas por esses dois países, capitalismo e socialismo, a chamada Guerra Fria. E, atualmente, presenciamos algo parecido, um choque entre essas duas potências, tendo como estopim a crise na Ucrânia. Na época, Chespirito soube aproveitar da situação para criar um brilhante vilão e, ao mesmo tempo, mais um herói atrapalhado. Mas, infelizmente, o mestre não soube, ou melhor, não quis dar continuidade a essa grande rivalidade. Dimitri possui características que facilmente dariam para ser aproveitadas, com nenhum esforço. Aliás, também seria favorável para o seu intérprete, assim como o caso acima. Edgar possui poucos vilões na série, nem mesmo o Almôndega é seu, ou seja, seria positivo para todos os aspectos. O episódio acabou sendo a primeira e não última aparição de Super Sam, mas não aconteceu o mesmo com o Dimitri Panzov…
Buffalo Bill: Da vida real para ficção, Chespirito transformou William Frederick Cody em um dos vilões do Chapolin, nomeando-o com o apelido do aventureiro americano: Buffalo Bill. Talvez seja um dos vilões mais intimidadores devido a sua fama. Além do mais, para querer desafiar uma tribo toda, é porque o cara é o “cara”. Sem contar que ele coloca o Polegar em uma grande saia justa: um alvo humano dos siouxs. Mas se ele está nessa lista é porque também foi descartado por Chespirito, sendo mais um a se sujeitar em histórias idênticas, uma de 1974 e outra de 1976.
Mesmo sendo interpretado por Ramón Valdés, o ator com o maior número de vilões na série, não dava para descartar Buffalo Bill. Já que foi dado a ele a missão de “matador de aluguel”, Chespirito poderia criar, por exemplo, histórias onde ele é contratado por um outro vilão para matar Chapolin. O fato é que essa vilão tinha mais para mostrar, desde pequenas participações até episódios focados totalmente nele.
Panchostein: É, a figura dessa vilão não foi mal aproveitada por Chespirito. Podemos ver Frankenstein na primeira versão de “Festa à fantasia“, pertencente à temporada de 1974, em uma paródia do filme homônimo na primeira parte de “O show deve continuar” (1978), enfim. Todavia Chespirito não o aproveitou bem como vilão do Chapolin, também aparecendo em histórias idênticas, inclusive uma bem antiga. Roberto não deixava de acrescentar, entre os muitos inimigos do polegar, monstros e outras aberrações. Podemos ver Lobisomem, o Abominável Homem das Neves, gigantes, marcianos, entre outros. Mas não podemos nos esquecer que a maioria são atores disfarçados ou sonhos de algum personagem. Isso não acontece com Panchostein, um verdadeiro morto-vivo, mas que foi “jogado novamente para o seu túmulo”.
Eu consigo imaginar uma história não tão assustadora, porém tendo bastante ação com esse vilão, diferente de sua história conhecida. Até daria para colocar novamente o cientista que o criou, tentando inventar mais um monstro para combater o Chapolin. Chespirito deixou escapar tudo isso…
É certo que muitos outros vilões poderiam estar nessa lista, como Severiano Miron, Dona Carcereira, Homem Nuclear, Porca Solta etc. Só não os coloquei para não criar um texto com muitas informações, tornando-se cansativo para os leitores. O objetivo foi passar a vocês a quantidade de vilões que poderiam criar mais histórias divertidas, sendo uma ótima solução para os tantos remakes de Chespirito. Essa edição acabou sendo também uma crítica às regravações feitas por Roberto, onde pouquíssimas coisas eram mudadas. Enquanto ele sempre usou os já conhecidos inimigos do Polegar, outros simplesmente foram descartados. Não é porque há mais de uma versão com tal vilão que ele teve destaque na série. Que o mestre moldasse melhor a legião de inimigos do polegar… Quem sabe esses “esquecidos” não dão as caras no longa de animação do nosso herói preferido? Mesmo que sejam odiados por alguns (eu, por exemplo, odeio a “vilã” do episódio “Ser pequeno tem as suas vantagens”) eles merecem um tratamento melhor.
Obs: Não citei personagens como Riacho Molhado porque não trata-se exatamente de um vilão. A maioria são atores disfarçados.
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