quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O MELANCÓLICO FIM DO PROJETO "AMAZONAS FILMES"

Box 8 foi o derradeiro do projeto
      a Amazonas Filmes, a principal responsável por enterrar seu próprio projeto, que prometia ser grandioso e próspero até para o crescimento da empresa, o que infelizmente não ocorreu e que acabou, pelo contrário, deflagrando sua falta de ambição e a ausência de vontade em alçar vôos maiores.
          Vamos voltar três anos antes, quando a Amazonas Filmes assumiu a missão de distribuir as versões em português dos DVD's originais de Chaves, Chapolin e Chespirito, lançados no México pela Televisa e Xenon Pictures. Em 2005, a Imagem Filmes enfrentou problemas judiciais por ter utilizado a dublagem original Maga nos episódios, sem acertar os devidos direitos autorais com os dubladores, no DVD "O Melhor do Chaves". A Amazonas abraçou o projeto, com a condição imposta pela Televisa de que uma nova dublagem fosse realizada nos episódios. A empresa acertou com o obscuro estúdio Gábia, que se tornaria outra bandeira do fim melancólico do projeto. Menos mal que a Amazonas, por intermédio do superintendente e também chavesmaníaco Paulo Duarte, teve o bom senso de pedir a ajuda do Fã-Clube não só para a indicação dos dubladores como também para a realização das necessárias adaptações no texto, traduzido ao pé-da-letra e sem as piadas com as quais estamos acostumados.

Primeiro box foi um êxito em vendas, mas a dublagem decepcionou
            As primeiras dublagens foram apoteóticas, com os membros do Fã-Clube acompanhando passo a passo - maravilhados - do desempenho das vozes dos grandes profissionais aos nossos tão amados personagens. O primeiro box com três DVD's foi lançado com pompas e cercado por expectativas, e pela quantia astronômica de R$ 109,90, cuja elevação do preço serviria para colaborar no pagamento aos dubladores. Uma questão surgiu: por que vender os discos apenas em boxes, ao invés de comercializá-los de forma avulsa? Assim, poderia pesar bem menos no bolso. Mesmo assim, as vendas da primeira caixa superaram as expectativas, pelo impacto de ser o primeiro produto de um total de dez boxes previstos. E o público que adquiriu o primeiro box certamente esperava pela dublagem com a qual já estava acostumado a ouvir no SBT. Aí começaram os problemas...

            De cara, os chavesmaníacos se decepcionaram com a dublagem de Tatá Guarnieri para o Chaves e também ficaram perplexos com a limitação de recursos dos estúdios Gábia. No ato, foram percebidas diversas falhas de sincronia nas falas com as cenas, além de claques e efeitos sonoros inexpressivos. Os dubladores tradicionais pareciam estar travados, fora de forma, já que não dublavam os personagens CH há mais de uma década. Pelo menos os episódios inéditos, nunca vistos antes no SBT, compensavam. Mesmo assim, a queda das vendas a partir do segundo box estava desenhada. Até porque esta segunda caixa estava repleta de episódios já conhecidos pelo público, com poucos inéditos. Isso sem contar as legendas que não combinavam com as falas dos personagens (algo que seria corrigido apenas nos últimos boxes) e o som em espanhol distorcido e em muitos momentos inaudível. O interesse do grande público começava a se esfriar.

Seleção irregular de episódios motivou repetição de "O Último Exame da Escolinha" em boxes diferentes
(créditos da foto: Fábio Barbano)
            Não culpo a seleção de episódios, até porque esta foi realizada pela própria Televisa e a Amazonas se prontificou em realizar a distribuição das versões em português dos discos vendidos pela América Latina. Bem que os mexicanos poderiam organizar boxes por temporada, ao invés de promover toda essa miscelânea que provocou até repetição de episódios em caixas diferentes como "O Último Exame da Escolinha" (cortado no box 2 e completo no quarto). Sobre a distribuição, foi outro ato falho da Amazonas Filmes. Era raro você encontrar nas lojas as caixas à venda. A maior insistência da empresa foi, a partir dos boxes 3 e 4, pelo comércio por telefone, e contando com a ajuda do SBT, que passou a anunciar os boxes em seus intervalos. Muito tempo depois é que os DVD's eram lançados nas lojas (à exceção do oitavo, que sequer deu as caras). Ora, muitos não têm o costume de adquirir produtos por telefone. Eu, pelo menos, acho muito mais confortável nós comprarmos e levarmos na hora. Resultado: quanto mais boxes eram lançados, mais prejuízos e déficit nos bolsos da Amazonas.
            Outra coisa incrível: alguns discos têm problemas de reprodução. No quarto e quinto DVD de Chespirito, os episódios ficam travando, com a imagem parando, além daqueles mosaicos desagradáveis (aqueles quadrados pequenos) despontando na tela. É praticamente impossível assistir ao extra "O Guerra da Secessão" (DVD nº 5 Chespirito), além de serem constantes algumas pequenas travadas já no último episódio do disco, "Trair e Mentir, é só Reagir". Pior é que o meu caso não foi isolado, pois outros chavesmaníacos também se queixaram de que seus DVD's tinham problemas semelhantes. Esses e outros percalços infelizmente fizeram com que as divertidas e bem-boladas adaptações realizadas pelo Fã-Clube Chespirito-Brasil em alguns scripts passassem despercebidas.
            Por mais que Tatá Guarnieri realizasse um bom trabalho na dublagem dos personagens Chompiras e Chaparrón e tivesse um desempenho razoável como Chapolin, sua péssima atuação ao emprestar a voz para Chaves, o personagem principal da empreitada, seduzia cada vez menos o consumidor. Tatá, com um trabalho muito irregular no órfão nos estúdios Gábia e não obtendo evolução a cada box lançado, só viria a acertar a voz do Chavinho na Herbert Richers, na dublagem do personagem para o desenho animado. O mesmo vale para o experiente Carlos Seidl, cuja atuação nos boxes, na minha opinião, deixa a desejar. Fora de forma, Seidl não interpretava muito bem as falas do Madruguinha nos DVD's, ao contrário dos tempos áureos na Maga. Como Tatá, o dublador do Seu Madruga reencontraria sua melhor fase na dublagem da animação. "Que desgrama...". Ainda sobre Tatá, eu o absolvo de qualquer culpa, pois todos nós sabemos que é francamente impossível substituir o inigualável Marcelo Gastaldi à altura.

Um tiro pela culatra: box do Kiko também encalhou
            Com a queda vertiginosa nas vendas, a partir do fim de 2007 os DVD's começaram a aparecer de forma avulsa nas lojas... em balaios. O primeiro preço cobrado era de R$ 12,99. Hoje, esse valor varia, mas raramente passa disso. Há quem tenha comprado até por módicos R$ 4,95. Como o primeiro preço sugerido foi de R$ 109,90, a intenção era que cada disco custasse R$ 36,63. Prejuízo óbvio! Até porque a Amazonas Filmes resolveu apostar também na produção dos boxes do programa "Ah, que Kiko!", e realizando dublagem própria. Como o esperado, apenas a presença do filho da Dona Florinda e de Seu Madruga em poucos episódios de uma série fraca não conquistou o consumidor, e as vendas também foram pífias. E nunca vi o produto à venda em box nas lojas, provando de vez a precária distribuição da Amazonas Filmes. Assim, os discos do Kiko também passaram a figurar nos balaios das lojas com preço promocional. Mais déficit à vista! Isso sem contar a pirataria...

Os quadros do Programa Chespirito não entusiasmaram o público
            A inclusão insistente dos DVD's do Programa Chespirito nos boxes também pode ter representado um problema. Como essas séries, infelizmente, não são populares no Brasil, o consumidor não quis desembolsar tanta grana num box completo, sabendo que só aproveitaria os discos de Chaves e Chapolin. Assim, o preço total das caixas despencou a partir dos últimos lançados, sendo cobrado algo em torno de R$ 60. A péssima distribuição já citada se resumia ao comércio dos boxes em empresas desconhecidas, além da compra direta. Sites consagrados de vendas não possuem em estoque as caixas mais recentes.
            Assim, lamentavelmente, o projeto da Amazonas Filmes deve se encerrar de forma melancólica. Segundo relatou Valette Negro, tanto é que o box 9 não foi lançado, assim como a décima caixa. O mesmo  ocorreu com o segundo box do Kiko. Não há como negar que a intenção da empresa foi boa. Faltou, portanto, um melhor planejamento e mais organização. O trabalho acabou sendo de principiante, feito nas coxas, de qualquer jeito... Graças a Deus que a Amazonas tinha Paulo Duarte e suas boas idéias, senão tudo poderia ser ainda pior... Por que não optaram por um estúdio de dublagem mais qualificado? O Uniarthe, responsável pelos trabalhos em "Ah, que Kiko!", realizou um trabalho mais aceitável. Afinal, o Gábia mostrou-se uma negação. Como seria se a Imagem Filmes continuasse com o projeto? Quem sabe esta poderia indicar um estúdio melhor, apenas para os episódios inéditos, mantendo a dublagem original aos capítulos conhecidos.

            É uma lástima que poderemos não assistir a episódios inéditos como "Dona Florinda Doente", além de perdidos, que iriam aparecer nos dois últimos boxes. Pelo menos deu pra lançar a oitava caixa, com os lindos desenhos de Maurício Melo ilustrando as capas e a inclusão do tão esperado DVD nº 8 do Chaves.

            Pra finalizar, algo que sintetiza o sentimento dos chavesmaníacos de que a Amazonas ficou devendo é uma frase o autor do célebre e-mail à empresa sugerindo a produção dos DVD's brasileiros do Chaves - postou recentemente no FUCH: "Me arrependi de ter mandado a mensagem para a Amazonas Filmes".


Falando em Chapolin, creio que, infelizmente, episódios clássicos como "Papaizinho", "Dr. Chapatin no Casamento",  e outros tenham se tornado perdidos. Estes capítulos não dão as caras no SBT desde 2003, a tendência é que esses clássicos tenham sido simplesmente jogados para escanteio depois da remasterização. Vai entender o SBT...

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