SALVE A DUBLAGEM DE 1984!
"Cleópatra": episódio chave para a comparação dos dois estilos de dublagem
Durante a última exibição do episódio da Cleópatra, tive uma sensação de vazio por notar a falta de duas falas históricas. Sempre fui acostumado em ouvir o Júlio César de Chespirito respondendo à Cleópatra (Florinda Meza), que lhe perguntara se ele não tinha lacaios, que outro dia uma lacraia havia lhe picado no braço. E o que dizer da célebre resposta do "pequeno" imperador romano à Marco Antônio (Carlos Villagrán), após este perguntar-lhe sobre a serventia dos gladiadores? "Estão todos atlás das glades". O vazio no ar não foi apenas pelo fato das duas falas citadas serem engraçadas, mas também pela interpretação magistral do saudoso dublador Marcelo Gastaldi ao reforçar um humor mais solto e despojado não só nestes diálogos como também na maioria dos primeiros episódios de Chapolin dublados, mais precisamente em 1984, ano do famoso e mais cultuado lote de episódios da série. Tal reverência deve-se e muito à dublagem sensacional e com um clima sem-compromisso daqueles primeiros tempos, principalmente pelas antológicas atuações de Maga, ironicamente numa época em que ele ainda procurava o timbre ideal para a voz brasileira do super-herói da América Latina.
Mas vamos voltar ao episódio da Cleópatra. Desde 2005, o episódio vem sendo apresentado com uma dublagem mais recente, realizada em 1990. O SBT, equivocadamente, adquiriu há 18 anos atrás episódios de "Chaves" e "Chapolin" que já eram exibidos pela própria emissora desde 1984. Desconhecendo os fatos, Silvio Santos - mandou redublar capítulos anteriormente já dublados. Daí o fato de Chiquinha aparecer com a voz de Sandra Mara Azevedo numa exibição de "O Desjejum do Chaves" e em outra despontar com o timbre de Cecília Lemes. O mesmo ocorreu em episódios do Chapolin. Porém, algumas das novas dublagens para episódios conhecidos da série só foram ao ar pela primeira vez em 2005, exatamente com a tentativa de sedução de Cleópatra a Júlio César e a Marco Antônio, fruto da remasterização dos episódios realizada pelo SBT em 2003, Isso que a segunda dublagem de "Leonardo da Vinci" já tinha dado as caras no histórico "Quinta Comédia" de 1998, regressando em 2006, com o episódio tendo sua dublagem original também apresentada neste intervalo de tempo.
"Tarzan... Tarzan". Melhor atuação de Maga na dublagem das séries CH
Nota-se uma clara diferença no estilo de dublagem dos primeiros episódios, em 1984, para os trabalhos a partir de 1990, quando o segundo lote de episódios do Chapolin fora adquirido (não considerando ainda as suspeitas de um lote de 1988 da série). Nos tempos primordiais, como já salientei, os dubladores estavam mais soltos, mais à vontade, fazendo improvisos até com alguma constância, o que aumentava a autenticidade do humor dos programas. Tanto que, por conta disso, considero a dublagem de Gastaldi no episódio "Serpentura de Mordente" (o da padiola) a melhor que ele já fez em todos os capítulos das séries CH. E a dublagem é das mais antigas, pois além da voz de Chapolin ainda ser "provisória", com Maga utilizando um timbre mais infantil (estilo de um personagem de desenho animado), o herói ainda é chamado de Polegar Vermelho, o bordão era "eu suspeitava desde o princípio" e o som tem eco, algo comum nos primeiros episódios trabalhados pelo antigo estúdio Marshmallow. Mesmo assim, quem não se diverte com Chapolin - e aquela voz que dá impressão do herói ter ingerido gás hélio segundos antes - repetindo a palavra "padiola" trocentas vezes, além da pergunta em tom de deboche "e qual é a cor que te agrada mais?"?
Se os episódios do lote de 1988 do Chaves são marcados pelo excesso das clássicas risadinhas durante os diálogos (vide "A Pichorra"), o lote de 1990 com novos capítulos de Chapolin tem como característica uma dublagem bem mais padronizada. Nada mais de Polegar Vermelho ou Chapolin Vermelho: o original Chapolin Colorado seria definitivo, bem como a fixação dos bordões do personagem e um texto com menos invenções, sendo mais fiel possível aos "libretos" de Roberto Gómez Bolaños, evitando-se assim improvisações despojadas do estilo "trouxeram até o Valentino Guzzo", além da troca do nome a la brasileira Porca Solta pelo original Poucas Trancas na redublagem do episódio (claro que as inserções de algumas figuras tupiniquins nestas dublagens mais recentes também foram inevitáveis, porém apenas quando necessário). E o estilo de dublagem de Marcelo Gastaldi não seria mais tão escrachado como em 1984: o tom adotado para Chapolin passaria a ser de uma maior frieza, ainda que com uma boa dose de ironia. Este modo permaneceu até o final dos trabalhos, antes da morte do dublador em 1995.
Se os episódios do lote de 1988 do Chaves são marcados pelo excesso das clássicas risadinhas durante os diálogos (vide "A Pichorra"), o lote de 1990 com novos capítulos de Chapolin tem como característica uma dublagem bem mais padronizada. Nada mais de Polegar Vermelho ou Chapolin Vermelho: o original Chapolin Colorado seria definitivo, bem como a fixação dos bordões do personagem e um texto com menos invenções, sendo mais fiel possível aos "libretos" de Roberto Gómez Bolaños, evitando-se assim improvisações despojadas do estilo "trouxeram até o Valentino Guzzo", além da troca do nome a la brasileira Porca Solta pelo original Poucas Trancas na redublagem do episódio (claro que as inserções de algumas figuras tupiniquins nestas dublagens mais recentes também foram inevitáveis, porém apenas quando necessário). E o estilo de dublagem de Marcelo Gastaldi não seria mais tão escrachado como em 1984: o tom adotado para Chapolin passaria a ser de uma maior frieza, ainda que com uma boa dose de ironia. Este modo permaneceu até o final dos trabalhos, antes da morte do dublador em 1995.
Que papo é esse de Praça da República?
Com o surgimento das novas dublagens de clássicos episódios exibidos desde 1984 pelo SBT, essas diferenças nas interpretações e nos textos foram bem evidenciadas pelos telespectadores mais fanáticos pela série "Chapolin". E lamentadas também! Para 9 entre 10 chmaníacos, a dublagem cancelada de "Cleópatra" é muito melhor do que a atual, levada pela segunda vez ao ar no último dia 13 de setembro. A piada da lacraia, citada no primeiro parágrafo, foi substituída por "só essa que eu comprei na praça da República". Qual foi a graça? E gladiadores servirem coca-cola para Júlio César é até engraçadinho, mas não tanto quanto os "gladiadoles atlás das glades", na minha opinião.
As dublagens mais antigas foram realizadas de forma despretensiosa, pois, na ocasião, ninguém esperava que aqueles seriados fossem levados ao ar. Tanto que era comum os dubladores assumirem, pelo menos em uma única fala, as vozes de outros personagens. Exemplos: Sandra Mara Azevedo faz a voz da empregada Atadolfa (Florinda Meza) na frase "Aceita um chá, senhor?" no final do episódio do Cleptomaníaco. Isso após Marta Volpiani dublar a personagem normalmente no decorrer do capítulo. Em "O Anel Mágico", Gastaldi dubla o personagem de Carlos Villagrán em três falas, mesmo com Nelson Machado também atuando na história. E o que dizer de Mário Villela dublando Horácio Gómez Bolaños na já saudosa primeira dublagem da Cleópatra?
As falas eram inseridas pelos dubladores até mesmo quando os atores estão com a boca fechada. No mesmo episódio da Cleópatra, quando a rainha do Egito diz que Ptolomeu é a sua dinastia, Júlio César originalmente não diz nada. Mesmo assim, Maga adicionou uma fala em tom maroto: "Ah, da sua tia?". Na dublagem de 1990, esse adendo já não aparece, com o imperador romano apenas soltando um "ah". É algo que sintetiza muito bem a diferença do estilo das duas dublagens. Em "Vamos à Disneylândia com o Polegar Vermelho", também dublado em 1984, Racha Cuca (Ramón Valdez) ameaça Chapolin com o revólver e, enquanto o criminoso permanece sério e calado, o dublador Carlos Seidl adiciona a fala "Prepare-se para viajar! E não será uma viagem para a Disneylândia!". Outra diferença marcante está em "Leonardo da Vinci", rebatizado pela dublagem de 1990 como "O Pintor". Após Leonardo (Chespirito) pedir para Lorenzo de Médicis (Edgar Vivar) fingir que está apontando uma espingarda com a mão esquerda na cintura, eis que o pintor, na dublagem de 1984, solta um escrachado "Ai, chuchu". Porém, na de 1990 - que estreou oito anos depois no "Quinta Comédia" -, a fala se transforma em "Ah, divino isso", com Gastaldi balbuciando a fala, não a tornando tão clara. A improvisação "O que espera? Ex-pera que era pêra e não é mais agora", marcante na primeira dublagem, também está ausente na segunda, em prol da padronização que não permitiu tantas invenções.
Na minha humilde opinião, por mais que a dublagem a partir de 1990 seja mais padronizada, redonda, direitinha e honrando fielmente o texto de Bolaños, o escracho pioneiro e a bagunça dos primeiros trabalhos de Maga e companhia fizeram muita falta nessas redublagens desnecessárias, graças ao clima de descontração total que acabou por contagiar a nós, fãs. A comparação no vídeo abaixo das duas dublagens de "Cleópatra" explica tudo!
As dublagens mais antigas foram realizadas de forma despretensiosa, pois, na ocasião, ninguém esperava que aqueles seriados fossem levados ao ar. Tanto que era comum os dubladores assumirem, pelo menos em uma única fala, as vozes de outros personagens. Exemplos: Sandra Mara Azevedo faz a voz da empregada Atadolfa (Florinda Meza) na frase "Aceita um chá, senhor?" no final do episódio do Cleptomaníaco. Isso após Marta Volpiani dublar a personagem normalmente no decorrer do capítulo. Em "O Anel Mágico", Gastaldi dubla o personagem de Carlos Villagrán em três falas, mesmo com Nelson Machado também atuando na história. E o que dizer de Mário Villela dublando Horácio Gómez Bolaños na já saudosa primeira dublagem da Cleópatra?
As falas eram inseridas pelos dubladores até mesmo quando os atores estão com a boca fechada. No mesmo episódio da Cleópatra, quando a rainha do Egito diz que Ptolomeu é a sua dinastia, Júlio César originalmente não diz nada. Mesmo assim, Maga adicionou uma fala em tom maroto: "Ah, da sua tia?". Na dublagem de 1990, esse adendo já não aparece, com o imperador romano apenas soltando um "ah". É algo que sintetiza muito bem a diferença do estilo das duas dublagens. Em "Vamos à Disneylândia com o Polegar Vermelho", também dublado em 1984, Racha Cuca (Ramón Valdez) ameaça Chapolin com o revólver e, enquanto o criminoso permanece sério e calado, o dublador Carlos Seidl adiciona a fala "Prepare-se para viajar! E não será uma viagem para a Disneylândia!". Outra diferença marcante está em "Leonardo da Vinci", rebatizado pela dublagem de 1990 como "O Pintor". Após Leonardo (Chespirito) pedir para Lorenzo de Médicis (Edgar Vivar) fingir que está apontando uma espingarda com a mão esquerda na cintura, eis que o pintor, na dublagem de 1984, solta um escrachado "Ai, chuchu". Porém, na de 1990 - que estreou oito anos depois no "Quinta Comédia" -, a fala se transforma em "Ah, divino isso", com Gastaldi balbuciando a fala, não a tornando tão clara. A improvisação "O que espera? Ex-pera que era pêra e não é mais agora", marcante na primeira dublagem, também está ausente na segunda, em prol da padronização que não permitiu tantas invenções.
Na minha humilde opinião, por mais que a dublagem a partir de 1990 seja mais padronizada, redonda, direitinha e honrando fielmente o texto de Bolaños, o escracho pioneiro e a bagunça dos primeiros trabalhos de Maga e companhia fizeram muita falta nessas redublagens desnecessárias, graças ao clima de descontração total que acabou por contagiar a nós, fãs. A comparação no vídeo abaixo das duas dublagens de "Cleópatra" explica tudo!
Estreou no último dia 10 a novela "Sonhos e Caramelos" na CNT. O folhetim tem María Antonieta de las Nieves num dos principais papéis, como Antonieta de Monraz. O mais legal é que Sandra Mara Azevedo, a primeira dubladora da Chiquinha, volta a dublar a atriz neste trabalho. Produzida em 2005 pela Televisa, "Sonhos e Caramelos" é exibida de segunda a sábado, às 19h (horário de Brasília), pela CNT. "Portonto", quem quiser curtir uma "Chiquinha" mais madura, e com uma dasvozes que consagraram a personagem, não pode perder essa atração! Sim, pois é, pois é, pois é....
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